Pelas
marquises do Copan
Marta
é militante dum partido de meia esquerda. Jorge
Miguel
é coordenador geral num de extrema direita.
Ambos
moram em São Paulo. No início daquela campanha
política,
resolveram dar um tempo na relação, evitando discursos
disputamentários.
Entretanto, em inomináveis brados, bateram-se
os telefones nas caras.
Dia
seguinte Marta achou melhor ir até o condomínio onde
Jorge
mora e lhe deixar um bilhete carinhoso.
Gostava
dele, adorava grandes desafi os.
Enquanto
escrevia gracinhas ao amado, viu, sobre o balcão
do
zelador ausente, um cartão em forma de coração endere çado a
Jorge Miguel. E ela leu...
Jorge
baby, me espere nu dia 10 no Copan-inho.
Love
forever, Bellkiss Winnfuck.
Marta
caiu de cama, mas no dia 10 saiu rumo à Avenida
Ipiranga,
Edifício Copan.
Pelo
caminho ergueu o som do rádio pra não pensar.
Parou
na frente do edifício de arquitetura arrojada, marquises
paralelamente
onduladas.
Logo
avistou Jorge entrando no prédio. Deu um tempo e
entrou
também.
De
olho na placa indicativa, viu que o elevador tinha parado
no
18o
andar.
Marta subiu pelo outro elevador. Tremia tanto
que
foi obrigada a sentar-se na escada. Respirando fundo, tentava convencer-se... encostou-se na parede um tempo.
“Seja
fi na, Martinha. Sem escândalos. Ri melhor quem ri
por
último. Ele não merece você.
A
vingança é um prato que se come frio. Não ponha os pés
pelas
mãos...”
Nisso,
sai do outro elevador uma sinuosa mulher e pára em
frente
o apê, onde Jorge certamente a esperava.
Marta
fugiu escada acima, mas, ao ouvir a campainha,
desceu
uns degraus e espiou... ele pelado abraçando a tal da
Bellkiss
e a porta fechando-se.
Tremendo
de bater queixo, Marta subiu um andar, tocou
qualquer
campainha, pediu emprestada uma cebola (pra disfarçar) e
uma faca. Desceu. Não, não estava se reconhecendo... Num impulso
jogou faca e cebola escada abaixo. Estacou por uns segundos, queria
gritar, mas emudeceu completamente. De repente, passou
a golpear a porta do apê com murros e chutes.
Um
dos seus sapatos voou e como um bumerangue atingiulhe
a
cabeça. Queria urrar, mas a voz não lhe obedecia.
Dois
travestis, vizinhos de porta e janela, acolheram Marta,
pedindo-lhe
que se acalmasse. Numa
das camas da quitinete, havia alguém com a cabeça coberta,
tremendo muito, soltando grunhidos ininteligíveis sob um
acolchoado xadrez de preto e lilás.
– Liga
não, lindinha, é uma colega nossa atacada de furor
uterino.
Toma esse chá-de-estrada, santinha. Prazer, meu nome é
Leilá, o dela é Bombshell. A que está de cama é ahn... a Norminha Peluda!
– Entra
– sussurrava Leilá, temendo uma possível aparição
do
síndico.
Dias
depois, Marta voltou ao Copan com fl ores e bombons,
agradecida
pelo carinho recebido de Leilá e Bombshell. Só então, inteiraram-na
dos detalhes daquele dia inesquecível.
Quem
tremia sob o acolchoado xadrez era Bellkiss, que
antes
estava no apê com Jorge.
Como
era casada com o candidato e patrão de Jorge, achou
que
era o marido dela quem chutava a porta. Em pânico, saiu
caminhando
pelo parapeito e alcançou a janela da quitinete
vizinha,
entrou e contou seu drama para Leilá e Bomshell, que
cobriram
Bellkiss com o acolchoado e aí sim abriram a porta,
mas
achando que era o marido. Não era o marido de Bellkiss, era Marta.
Jorge
Miguel também escapuliu pela janela e, pulando de
marquise
em marquise, chegou à calçada com quatro fraturas
nas
pernas, sendo uma exposta.
Bellkiss
foi internada numa clínica de repouso, em estado
de
choque.
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