Tuesday 24 September 2013

Pelas marquises do Copan


Pelas marquises do Copan

Marta é militante dum partido de meia esquerda. Jorge
Miguel é coordenador geral num de extrema direita.
Ambos moram em São Paulo. No início daquela campanha
política, resolveram dar um tempo na relação, evitando discursos
disputamentários. Entretanto, em inomináveis brados, bateram-se os telefones nas caras.
Dia seguinte Marta achou melhor ir até o condomínio onde
Jorge mora e lhe deixar um bilhete carinhoso.
Gostava dele, adorava grandes desafi os.
Enquanto escrevia gracinhas ao amado, viu, sobre o balcão
do zelador ausente, um cartão em forma de coração endere çado a Jorge Miguel. E ela leu...
Jorge baby, me espere nu dia 10 no Copan-inho.
Love forever, Bellkiss Winnfuck.

Marta caiu de cama, mas no dia 10 saiu rumo à Avenida
Ipiranga, Edifício Copan.
Pelo caminho ergueu o som do rádio pra não pensar.
Parou na frente do edifício de arquitetura arrojada, marquises
paralelamente onduladas.
Logo avistou Jorge entrando no prédio. Deu um tempo e
entrou também.
De olho na placa indicativa, viu que o elevador tinha parado
no 18o andar. Marta subiu pelo outro elevador. Tremia tanto
que foi obrigada a sentar-se na escada. Respirando fundo, tentava convencer-se... encostou-se na parede um tempo.
Seja fi na, Martinha. Sem escândalos. Ri melhor quem ri
por último. Ele não merece você.
A vingança é um prato que se come frio. Não ponha os pés
pelas mãos...”
Nisso, sai do outro elevador uma sinuosa mulher e pára em
frente o apê, onde Jorge certamente a esperava.
Marta fugiu escada acima, mas, ao ouvir a campainha,
desceu uns degraus e espiou... ele pelado abraçando a tal da
Bellkiss e a porta fechando-se.
Tremendo de bater queixo, Marta subiu um andar, tocou
qualquer campainha, pediu emprestada uma cebola (pra disfarçar) e uma faca. Desceu. Não, não estava se reconhecendo... Num impulso jogou faca e cebola escada abaixo. Estacou por uns segundos, queria gritar, mas emudeceu completamente. De repente, passou a golpear a porta do apê com murros e chutes.
Um dos seus sapatos voou e como um bumerangue atingiulhe
a cabeça. Queria urrar, mas a voz não lhe obedecia.
Dois travestis, vizinhos de porta e janela, acolheram Marta,
pedindo-lhe que se acalmasse. Numa das camas da quitinete, havia alguém com a cabeça coberta, tremendo muito, soltando grunhidos ininteligíveis sob um acolchoado xadrez de preto e lilás.
Liga não, lindinha, é uma colega nossa atacada de furor
uterino. Toma esse chá-de-estrada, santinha. Prazer, meu nome é Leilá, o dela é Bombshell. A que está de cama é ahn... a Norminha Peluda!
Entra – sussurrava Leilá, temendo uma possível aparição
do síndico.
Dias depois, Marta voltou ao Copan com fl ores e bombons,
agradecida pelo carinho recebido de Leilá e Bombshell. Só então, inteiraram-na dos detalhes daquele dia inesquecível.
Quem tremia sob o acolchoado xadrez era Bellkiss, que
antes estava no apê com Jorge.
Como era casada com o candidato e patrão de Jorge, achou
que era o marido dela quem chutava a porta. Em pânico, saiu
caminhando pelo parapeito e alcançou a janela da quitinete
vizinha, entrou e contou seu drama para Leilá e Bomshell, que
cobriram Bellkiss com o acolchoado e aí sim abriram a porta,
mas achando que era o marido. Não era o marido de Bellkiss, era Marta.
Jorge Miguel também escapuliu pela janela e, pulando de
marquise em marquise, chegou à calçada com quatro fraturas
nas pernas, sendo uma exposta.
Bellkiss foi internada numa clínica de repouso, em estado
de choque.

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