Monday 30 September 2013

A primeira vez...


Anos 50.
Ela gostava de ficar debruçada na janela, esperando o namorado dobrar a esquina pra lhe fazer mais feliz.
Um dia, um adolescente que sempre passava por ali, de repente a olhou dum jeito diferente e ganhou dela um sorriso que ele achou o mais bonito do mundo. Assim, sentiu que sua avant premiére havia começado. Indo ou vindo do colégio ou de outro lugar, passava sempre por aquela calçada, pra ver a moça da janela. Formigação, coração baticum. Meses seguiram-se, ele olhando pra ela, ela sorrindo, ativando a combustão.
Nos intervalos das vindas do namorado, a distância entre a moça e o adolescente foi diminuindo. Já trocavam idéias animadas até que surgiram os elogios.
Ele criou coragem e pediu um beijo. Ela sorriu e disse não, o namorado era brigão.
O adolescente já vira o rival; um cara musculoso que inspirava cautela.
Num fim de tarde, o carinha saiu de casa pra encontrar a turma no clube. Como estava perfumado e elegante, resolveu passar primeiro pra vê-la e vice versa. Ela, linda na janela, convidou-o pra entrar porque o noivo estava jogando futebol e não viria naquele dia.
O adolescente entrou e já no corredor caiu nos braços da amada, desarmado, bem, de uma certa forma.
Quando o fogaréu se alastrava, o noivo dela buzinou o fusca lá fora...  num zás, o adolescente catou as roupas, sapatos e se enfiou debaixo da cama.
Ela estendeu a colcha até o chão pra esconde-lo e ajeitando-se correu a abrir a porta.
Debaixo da cama, tremendo de medo, desejo e ódio, ele ouvia mais as chicotadas do seu coração que a conversa do casal.  De repente, a cavalgada sobre o colchão provocou saltinhos da cama no chão liso. Mesmo assim ele podia ouvir as sacanagens que o brutamontes dizia à sua amada. Quando a moça convidou o namorado pra que continuassem a transar sob a água do chuveiro, o menino entendeu que essa era sua deixa.
A torneira aberta e a batida da porta do banheiro deram cobertura, ele enfiou a cueca e escafedeu-se pra rua onde terminou de vestir-se e chispou pro clube.
Os amigos perguntaram se ele tinha conseguido beijar a moça da janela. Ele disse que sim, que muito mais que isso, claro!
Já no clube, dançou com uma menina, que ao sentir em seu peito os saltos do coração dele, acreditou ser a musa dessa paixão.


Claudia Pacce

No comments:

Post a Comment