Anos 50.
Ela gostava de ficar debruçada na
janela, esperando o namorado dobrar a esquina pra lhe fazer mais
feliz.
Um dia, um adolescente que sempre
passava por ali, de repente a olhou dum jeito diferente e ganhou dela
um sorriso que ele achou o mais bonito do mundo. Assim, sentiu que
sua avant premiére havia começado. Indo ou vindo do colégio ou de
outro lugar, passava sempre por aquela calçada, pra ver a moça da
janela. Formigação, coração baticum. Meses seguiram-se, ele olhando pra
ela, ela sorrindo, ativando a combustão.
Nos intervalos das vindas do
namorado, a distância entre a moça e o adolescente foi diminuindo.
Já trocavam idéias animadas até que surgiram os elogios.
Ele criou coragem e pediu um beijo.
Ela sorriu e disse não, o namorado era brigão.
O adolescente já vira o rival; um
cara musculoso que inspirava cautela.
Num fim de tarde, o carinha saiu de
casa pra encontrar a turma no clube. Como estava perfumado e
elegante, resolveu passar primeiro pra vê-la e vice versa. Ela,
linda na janela, convidou-o pra entrar porque o noivo estava
jogando futebol e não viria naquele dia.
O adolescente entrou e já no
corredor caiu nos braços da amada, desarmado, bem, de
uma certa forma.
Quando o fogaréu se alastrava, o
noivo dela buzinou o fusca lá fora... num zás, o adolescente catou as
roupas, sapatos e se enfiou debaixo da cama.
Ela estendeu a colcha até o chão
pra esconde-lo e ajeitando-se correu a abrir a porta.
Debaixo da cama, tremendo de medo,
desejo e ódio, ele ouvia mais as chicotadas do seu coração que a
conversa do casal. De repente, a cavalgada sobre o
colchão provocou saltinhos da cama no chão liso. Mesmo assim ele
podia ouvir as sacanagens que o brutamontes dizia à sua amada. Quando a moça convidou o namorado
pra que continuassem a transar sob a água do chuveiro, o menino
entendeu que essa era sua deixa.
A torneira aberta e a batida da porta
do banheiro deram cobertura, ele enfiou a cueca e escafedeu-se pra
rua onde terminou de vestir-se e chispou pro clube.
Os amigos perguntaram se ele tinha
conseguido beijar a moça da janela. Ele disse que sim, que muito
mais que isso, claro!
Já no clube, dançou com uma menina, que ao
sentir em seu peito os saltos do coração dele, acreditou ser a musa
dessa paixão.
Claudia Pacce
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