Wednesday, 28 August 2013

Velha Estrada

 

O risco terroso desenha a montanha, afina e se curva pra dentro de mim. Mourão, arado, enxó, enxadão. A estrada que leva a gente de volta; o Zé guiando a charrete, cavalo alazão de brilhoso suor.
Não se vê, mas se escuta... longíngüo, o apito dum trem. Sinal de cautela, cancela abaixada, espera-um-pouco-já-vaaaaiiiiiiiii...
Há tempos ou mais, não atinava voltar, não pra ver a mãe só querendo dormir. A mesma mangueira acolhe a sombrar, agora copada até quase o chão. Capim rosa chá ondulando a memória demais: eu no galho mais alto possível, desafiando a queda e a lei. Lá em baixo os conselhos da mãe
"olha o tombo! a dor de barriga! manga verde faz muito mal." Tinha ela a razão, tinha eu aventura nas veias, narinas entregues aos cheiros que nunca mais... As mangas daqui sabem insosas, esteticamente bitelas, belas dosagens de pura agrotoxicação.
Quantos cuidados de minha então jovem mãe!
Mas hoje é tristeza que dói porque dói.
Recosto no tronco, no frio o sol, rebrilhando, espicho-preguiça intentando esquecer. Quem sabe nesses entretantos o tempo inventa que volto só por voltar, revisitando a infância em amparos demais.
Lembrar colo quentin de avó Maristória:
" vó, que bicho que é esse aí bem no chão ?"
"Hmm...é um belo dum sapo! à noite lhe conto
a história do príncipe que virou sapo!"
Mas à noite contava a do sapo que virou príncipe!
Com ela aprendi a não rejeitar a inspiração. Só de encostar a cabeça em seus fartos seios, meus temores medosos viravam travesseirões.
Maria, quitanda de amor, mexendo panelas de ferro; fubá, cambuquira em verde fervor. Agora é outra hora, é medo do desconhecido, ficar sem vó Maria Mineira, sem mãe, sem pai sem a irmã, acabou, não tem mais?

Vai mana, pergunta pra vó como é que ela vê esse lado de lá...

A estrada terrosa se curva solene, aos índios, escravos, imigrantes, cavalos, carroças, caboclos como na prosa do Rosa, o Guimarães das Gerais.
Cadê a estação e seus trens pitando fumaças, fagulhas furando os guarda-pós? Mexericas lotando jacás ? Quem vai comprar? Tem futrico pra troca?   



Onde, as cautelas de espera-um-pouco-já-vaaiii ?

Ah vida...é a morte esse trem sem cancelas ?


Claudia pacce

2 comments:

  1. saudade tbm dos meus avos!!
    Diz a minha mae q ela corria da surra q minha vo ia dar nela subida numa arvore de membrillo...q e uma fruta aqui do Uruguay quase igual q a goiaba.hahaha....eu tbm corria pros braços da minha avo quando tinha medo...e sobre panelas de ferro nunca a vi cozinhar...mas ela conta um monte desse tempo....
    Bjss

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  2. tb fugia pra cima de uma mangueira, e via minha mãe balançando a cinta na mão! Mad minha avó era minha rainha. Bjs Lu!

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