A pulga morta
Inspirado em artigo publicado em 15/08/1968 pelo Diário Popular, SP
-O
senhor é Oscar Blois ?
-Sou.
Mas como é que entrou na minha casa?
-Foi
você que anunciou essa mensagem cifrada:
“Vendem-se pulgas mortas, Estrada de Taipas, 59”?
-Foi
sim, mas isso não é mensagem cifrada, é minha arte!
-Ca-la-do
comuna! Tá sob suspeita por esse anúncio de aviso!
-Que
quer dizer anúncio de aviso e esse batalhão na minha porta ?
-Teje
preso!
-
Ignorante! Bota algema na tua progenitora, milico duma figa!
(porrada)
-Reclama
quando chegar no DEIC !
Lá
foi Oscar Blois, funcionário do Instituto do Café, socado num
camburão.
Após
ser arrebentado por torturas diversas, teve que explicar novamente
sua façanha artística:
-Durante
quinze anos pintei cabeças de alfinete, usando tinta a óleo e pêlo
de cílios como pincel. Escrevia nomes inteiros, até fiz o do
presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira.
Ele
gostou tanto que ficou meu amigo. Um dia, quando eu pintava o
alfinete, uma pulga me picou na mão, me atrapalhei e perdi o
serviço, consegui matar a maldita mas sem
destruí-la
e como vingança, escrevi um nome na cabeça dela.
-Que
nome escreveu, cachorro ?
-Sei
lá, foi um palavrão! Aí achei que tinha descoberto a maior
novidade.
-Pôrra,
anda logo co’essa bosta de história!
-Então,
por que já me fez contar isso vinte vezes?
-Cala
a boca, viado, continua!
-Se
eu calar a boca não dá pra continuar...
(porrada)
-Tá
querendo mais choque nos culhão, cachorro?
-Aaaaiiii, tá, tá!!! depois
disso comecei a caçar pulgas, matar com jeito e pintar na cabeça
delas.Vendo
a cinco paus por letra. Boto a bichinha dentro dum vidro e tampo com
lente de
aumento que é pro cliente poder ler. Já tive pedido até dos
Estados Unidos. Mas os negócios andam ruins, meus olhos adoeceram
por causa do esforço. Trabalho com lentede
relojoeiro. Agora, com esse susto que vocês me pregaram, vou mudar de
atividade artística e poder esmagar pulgas como todo mundo faz.
claudia pacce
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