Saturday 24 August 2013

A pulga morta em tempos bicudos

  A pulga morta

Inspirado em artigo publicado em 15/08/1968 pelo Diário Popular, SP




-O senhor é Oscar Blois ?

-Sou. Mas como é que entrou na minha casa?

-Foi você que anunciou essa mensagem cifrada:

Vendem-se pulgas mortas, Estrada de Taipas, 59”?


-Foi sim, mas isso não é mensagem cifrada, é minha arte!

-Ca-la-do comuna! Tá sob suspeita por esse anúncio de aviso!

-Que quer dizer anúncio de aviso e esse batalhão na minha porta ?

-Teje preso!

- Ignorante! Bota algema na tua progenitora, milico duma figa!

(porrada)

-Reclama quando chegar no DEIC !

Lá foi Oscar Blois, funcionário do Instituto do Café, socado num camburão.

Após ser arrebentado por torturas diversas, teve que explicar novamente sua façanha artística:



-Durante quinze anos pintei cabeças de alfinete, usando tinta a óleo e pêlo de cílios como pincel. Escrevia nomes inteiros, até fiz o do presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira.

Ele gostou tanto que ficou meu amigo. Um dia, quando eu pintava o alfinete, uma pulga me picou na mão, me atrapalhei e perdi o serviço, consegui matar a maldita mas sem

destruí-la e como vingança, escrevi um nome na cabeça dela.

-Que nome escreveu, cachorro ?

-Sei lá, foi um palavrão! Aí achei que tinha descoberto a maior novidade.

-Pôrra, anda logo co’essa bosta de história!

-Então, por que já me fez contar isso vinte vezes?

-Cala a boca, viado, continua!

-Se eu calar a boca não dá pra continuar...

(porrada)

-Tá querendo mais choque nos culhão, cachorro?

-Aaaaiiii, tá, tá!!! depois disso comecei a caçar pulgas, matar com jeito e pintar na cabeça delas.Vendo a cinco paus por letra. Boto a bichinha dentro dum vidro e tampo com lente de aumento que é pro cliente poder ler. Já tive pedido até dos Estados Unidos. Mas os negócios andam ruins, meus olhos adoeceram por causa do esforço. Trabalho com lentede relojoeiro. Agora, com esse susto que vocês me pregaram, vou mudar de atividade artística e poder esmagar pulgas como todo mundo faz.

claudia pacce

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