Aranhas & Galinhas

Viver e deixar viver é o mantra da pequena ilha americana de Key West, sul da Flórida. Usualmente é um lugar tolerante. Motociclistas em roupas de couro preto cavalgam suas Harley-Davidsons. Bronzeadas moças em topless, anéis nos dedos dos pés passeiam sossegadas, assim como velhos hippies de longas cãs e surradas camisetas deslizam em seus velhos carros esporte sob coqueirais, entre os turistas.

Pescadores na sua lida diária entre redes, histórias e muita calma.

A temperatura calorosamente estável, descontrai, a n'ao ser por sazonais furacões, nada desaloja os moradores de seu modus vivendis.

Como lá não se mata bicho, a ilha está com problemas por superpopulação galinácea. Mais de duas mil espalham-se entre os vinte e oito mil residentes. Há quem aprove o fato da multiplicação, como os proprietários do restaurante “Paraíso Azul” onde se lê em uma placa no alto da porta:

“Galinhas estão seguras aqui e seus galos são bem vindos pra passear entre as mesas.”

Por outro lado, uma cruzada anti-galinhas vem aumentando na comunidade. A idéia é enviar mil delas pra fazendas na costa oeste, onde viveriam em exílio mas em paz. Só os ovos seriam comercializados.

Metade da cidade matará quem tocar numa galinha.

A outra, praguejará contra quem não acabar com elas.

Enquanto isso, as cocós invadem padarias, lojas de artesanato, restaurantes, farmácias, etc. deixam seus cocô nas praias, nascentes de água, empoleiram-se nos carros. E quando se assustam, voam pra cima das cabeças de incautos. Que ma-ra-vi-lha, diria o saudoso amigo pintor surrealista Jota Toledo...

Já na Nova Zelândia, o problema é outro.

Aranhas, cobras, etc não são peçonhentos. Picam mas não matam. O país faz bom vinho, mas como a produção é insuficiente, importa parte das uvas da Califórnia. 

Pois bem, ao abrirem as caixas da fruta, muitas aranhas “viuvas negras”, escapuliram, desaparecendo pelos vãos dos galpões de vinícolas. 
Desespero geral, elas certamente desovarão!!!                         Tem gente com medo de sair de casa. A mídia mostrou a comoção nacional.

Como brasileira politicamente desesperançada, confesso minha incomensuravel inveja de problemas galináceos & aracnídeos.

claudiapacce